sábado, 5 de janeiro de 2013

Bucowski


Esta noite me sinto envenenado, usado, gasto até o osso. Acho que a multidão, aquela multidão, a Humanidade, que sempre foi difícil pra mim, aquela multidão está ganhando, afinal. Acho que o grande problema é que tudo é uma performance repetida para eles. Não há novidade neles. Nem mesmo o menor dos milagres. São rançosos, bolorentos. Não há emoção. Congelam-se dentro de si mesmos, se enganam, fingindo que estão vivos. – Charles Bucowski.

Ontem, voltando na freeway, estava anoitecendo. Havia um pouco de neblina. Então, na estrada, vi um grande pára-choque grudado num pedaço da cerca. Evitei-o a tempo, depois olhei para a direita. Havia uma carambola de carros, quatro ou cinco, mas estava tudo silencioso, sem movimento, ninguém em volta, sem fumaça, sem faróis. Estava indo rápido demais para ver se havia pessoas nos carros. Então, de repente, ficou noite. Às vezes, não há nenhum aviso. As coisas acontecem em segundos. Tudo muda. Você está vivo. Você está morto. E as coisas continuam. C.B.

Por quê há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? Flores de merda, emporcalhando nossas chances.

Todos os dias volto do hipódromo apertando o rádio em diferentes estações, procurando música, música decente. Tudo é ruim, insípido, sem vida, sem melodia, indiferente. Mesmo assim, algumas dessas melodias são vendidas aos milhões. É horrível, uma idiotice terrível entrando em jovens cabeças. Eles gostam disso. Dê merda a eles e eles comem. Não conseguem discernir? Não conseguem ouvir? Não sentem a diluição, o mofo?

Gente demais é cuidadosa demais. Estudam, ensinam e fracassam. A convenção apaga suas chamas.

E Mahler está no rádio, desliza com tanta facilidade, arriscando muito, isso é necessário às vezes. Então, ele manda um daqueles trechos apoteóticos. Obrigado, Mahler, pego emprestado de você e nunca poderei pagar.

A maioria das pessoas não está pronta para a morte, a sua ou a dos outros. Ela as choca, as apavora. É como uma grande surpresa. Diabos, não deveria ser nunca. Levo a morte em meu bolso esquerdo. Às vezes, tiro-a do bolso e falo com ela: “ Oi gata, como vai? Quando virá me buscar? Vou estar pronto”.

O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até as suas mortes. Não reverenciam suas próprias vidas, cagam em suas vidas. Concentram-se demais em cinema, dinheiro, família. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouví-la. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer.  

Os escritores só gostam de cheirar a própria merda. Sou um desses. Não gosto nem mesmo de falar com escritores, de vê-los ou, pior, de ouvi-los. E o pior é beber com eles, se babam todos, realmente são lamentáveis, parece que estão procurando pela asa da mãe.

Na minha próxima vida quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais.

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