sábado, 10 de dezembro de 2011

REPENTE

Outra tarde de outro dia do mesmo mês do ano; uma tarde fosca de um dia lerdo num mês enfadonho de outro ano nu. Outra tarde incerta de um dia medonho num mês tão tacanho neste ano deserto. Jaz um ser humano na tarde deserta desse dia incerto nesse mês medonho no ano cinzento do planeta azul. Diz que deu no rádio sobre um ser tristonho nessa tarde fria, outra e outro dia desse mês imenso de um ano hostil no planeta só.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CAVALOS CALADOS

“O meu pulso não pulsou, o aparelho aceitou, a minha morte aparente, a sua sorte, minha garganta sem voz. Acordo semi-lúcido, entre a morte e a morte, relembrando onde perdi a minha língua atrevida pelas mortes, pelas vidas, pelas avenidas, pelas ruas sem chão! Meu corpo tem dois mil e tantos cavalos calados... “ – Raul Seixas.

Nunca vi a letra , Raul.
mas penso que era mais ou menos isso
um grito contra o conformismo
um basta sonoro à mesmice.

Nenhum galope, o cinza frio dos currais;
o cabresto, a encilha, o tapa-ôlho,
a ausência do movimento, o pasmo
atônito do tolhimento, o sofrimento
de querer mais e se podar
a aceitação do inevitável consentido
a ilusão de ser estável o adquirido
a sensação de ser inútil o já sabido
a complacência, o jugo admitido
a idiotice aplaudida, o cinismo
o egoísmo, o miopismo.

Mas a intentiva não morre nisso
o hipogrifo, o pégaso não nos deixam
esquecer as asas transparentes do ousar.

Cavalos calados, eis um grito.

sábado, 10 de setembro de 2011

Nossa

No futuro talvez ninguém mais vai lembrar nossa história. Ninguém vai recordar nosso amor, que foi tão bonito. Tudo se terá perdido na poeira do tempo. Nos desvãos da memória.

Por isso vou deixar aqui esses rabiscos. Prá todos e prá ninguém. Pra você, que viveu comigo muito disso.

Éramos cheios de vida, eu novinho ainda, você mais madurinha. Fiquei encantado por você. Não sei da sua primeira impressão. Você quase nunca me falou daqueles primeiros dias. Mas lembro da minha. Acho que foi seu sorriso: seu riso fácil, sua alegria. Lembro que eu era meio triste. E o seu riso quase me agredia. E eu, acostumado aos silêncios, só queria ouvir você falar. E só prestava atenção em você. E só queria estar com você.

Tudo que eu vivera até ali era como se não tivesse havido, o antes daqueles dias não significava nada. Meu tempo era só pra você, só com você, só em você me descobria.

E quando vi, estava apaixonado. Me afastei das amizades, já não varava mais a madrugada ouvindo estrelas. Me achei fazendo versos, ensaiando longas declarações de amor.

Depois, já não conseguia ficar longe. Lembro da minha espera ansiosa por sua carta toda semana. Da vontade doida de lhe ver de novo, lhe abraçar e lhe beijar, da angústia pela sua ausência.

E foi então que decidimos ficar juntos. Prá acabar aquela saudade, prá matar tanta vontade de sermos um do outro. Quebramos as barreiras do medo e da superstição e contra a opinião de quase todos, lembra?, resolvemos ser felizes. E foi bom, e foi mágico. Nós dois soltos na vida, sem regra nem lei. Nossa religião era o prazer.

Agora ríamos juntos, de mãos dadas e abraçados. E juntos atravessávamos a noite enorme dos amantes. Nosso amor naqueles dias era desesperado como se tudo fosse acabar amanhã.

Na verdade, foram longos anos. Quase uma vida inteira.

E agora, me diga, quem vai saber, quem vai lembrar? Quem um dia vai contar nossa história?

Do seu antigo parceiro naquela louca aventura de viver.

sábado, 28 de maio de 2011

NAS MANHÃS DO SUL DO MUNDO - Expresso Rural

Vou fugir dessa metrópole, a libertação
E seguir algum caminho que me leve ao sul
E nas manhãs do sul do mundo
Pelos campos estradas e rios
Semear meu canto em campos de cereais.

Pode ser um sonho louco mas eu vou achar
Em algum lugar desta federação
Alguma substância estranha, que substitua a dor no coração
E mate essa vontade de voltar...
de voltar...

http://www.youtube.com/watch?v=wlhiyp09wMk

JIMI - Hey Joe

http://www.youtube.com/watch?v=y_n_P40sEaM

VOLVER A LOS DIECISIETE - Violeta Parra

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios
Eso es lo que siento yo en este instante fecundo.

Se va enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Y va brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Mi paso retrocedido cuando el de ustedes avanza
El arco de las alianzas ha penetrado en mi nido
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Y hasta las duras cadenas con que nos ata el destino
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

http://www.youtube.com/watch?v=TdLlkZW58SI&feature=related

GRACIAS A LA VIDA - Violeta Parra

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el oído, que en todo su ancho
Traba noche y dia grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano y luz alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando
Gracias a la vida,que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida.

http://www.youtube.com/watch?v=PYEw3e5x5Es

terça-feira, 24 de maio de 2011

CONSELHO

Soube que você passou por momentos difíceis, mas resistiu. Considerando a situação, daria pra dizer, como os antigos, que você “nasceu de novo”. Então, como você continua na luta, vou sugerir algumas formas de mudar sua visão das coisas e talvez aproveitar melhor essa nova chance.

Respeite as pessoas, ouça os mais velhos, converse com seu pai, visite sua mãe. Eles não querem presentes, mas sua presença. Eles gostam de olhar pra você e ver como cresceu e sorriem satisfeitos. Ficam apreensivos se você demora. Torcem por você e vibram com suas vitórias.

Acorde antes do sol e saia na rua pra ver o dia começar. Logo cedo o ar ainda está parado, e quando vem a primeira brisa, você pode sentir como é bom encher os pulmões e respirar. Aprecie a aurora e o pôr-do-sol.

Vá ao campo e sente na beira de um riacho. O riacho está sempre passando mas, se você olhar bem, está sempre parado. O riacho vai lhe ensinar o desprendimento. Passar pelas coisas e pessoas, tocá-las de leve, sem desejos de posse, sem ciúmes. Ficar e passar. Pacificar os sentidos. Sinta os cheiros, saboreie os gostos e olhe longamente.

Deite de noite na grama e fique vendo o luar ou ouvindo as estrelas. Elas pulsam num ritmo parecido com o do coração. E não esqueça de fazer um pedido quando passar uma estrela cadente. Peça de preferência paz, amor e alegria e outras coisas simples que o dinheiro não compra.

Viva cada dia como se fosse o primeiro, cada noite como se fosse a última e ame seu amor como se fosse o único. Faça valer cada momento.

Seja sincero. A verdade é sempre o melhor caminho e nos liberta da dúvida e do erro. Não guarde mágoas nem acumule ressentimentos. O rancor só envenena a vida e traz desgaste e dissabor. E não esqueça de abraçar as pessoas, sorria para elas. Nada aquece mais a alma que um sorriso franco e amigo.

Converse com os velhinhos. Eles já viram muito, sonharam muito, sentiram muito. Sempre têm uma história boa pra contar.

Valorize as coisas simples. Tome banho de chuva. Aposte corrida com seu cachorro. Ande descalço. Coma goiaba no pé. Fique maravilhado com o riso das crianças. Caminhe por uma ruazinha qualquer que você não conheça, de preferência na hora mágica do meio-dia e deixe a beleza simples do cotidiano lhe envolver.

É mais ou menos isso. O resto você vai descobrindo com o tempo. Como dizia Raul, basta ser sincero e desejar profundo.

domingo, 1 de maio de 2011

DESCOMPASSO

Meio por acaso
em meio à chuva rala
(o sol no ocaso)
te vi na multidão.

Passaste apressada
e eu
que não ligava mais prá nada
senti pular no peito
o coração.

sábado, 16 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

BUCÓLICA

Passado tanto tempo, pensei de novo em ti,
em como era verde o vale contigo.
O riacho corria mais suave,
as flores perfumavam mais o ar
e até o sol parecia celebrar nossa união.
Eu te amei. Ah, e tu me amaste, eu sei.

Mas veio o vento forte e nuvens negras e trovejou
e choveu muito em meio a nossa manhã de sol.
As flores foram arrancadas,
o riacho ficou turvo e, quando clareou,
tinham morrido todos os peixinhos.
O vale ficou triste
e a gente nunca mais se viu.

Agora os dias passam lentos,
as horas se arrastam, intermináveis,
a paisagem não tem cor.
O tédio, às vezes, me corrói.

Precisava sair desse marasmo
e ver nascer uma manhã de luz.

E os campos seriam verdes de novo
e os dias azuis, as tardes mornas,
e o riacho alegre, as flores cheirosas,
e a gente riria muito, de mãos dadas.

sábado, 26 de março de 2011

ELEGIA

Eu era tosco, cru e previsível
tu eras sinuosa, transbordante,
misteriosa e linda.
Eu há muito esquecera o riso,
tu eras leveza e malícia.
Eu era sempre cinza,
tu eras o arco-íris, multicor.

Quando te vi quis me ajoelhar
e implorar pelas migalhas.
Mas me pegaste pela mão,
me mostraste o dia e a cor,
a tempestade do amor
e a paz do carinho.
E só então, só contigo,
pude começar o meu caminho.

Sem ti teria me matado.

Então te amo, querida,
com toda a força do meu espanto.
E se rio, se canto,
é pra ti que dedico o meu sorriso,
é por ti que exorciso o meu medo,
é em ti, mulher, que quero me acabar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ANTOINE DE SAINT-ÈXUPERY

Prá quem só conhece Èxupery do Pequeno Príncipe, vejam que coisa que é a

CIDADELA

Sei dessas raças abastardadas que deixaram de escrever os poemas e apenas os lêem, que deixaram de cultivar o solo e passaram a apoiar-se nos escravos.

Aqueles que não trocam nada jamais se tornam coisa alguma.

É preciso olharmos muito tempo para a árvore, para ela nascer também em nós.

A massa é incoerente, puxa em todos os sentidos e anula o esforço criador.

Libertem o homem, e ele criará.

Tudo aquilo que não for ascenção ou passagem não tem sentido nenhum.

Só aprendes a conhecer a Deus no exercício de orações que não obtém resposta. A tua oração, até a morte, é uma dança que danças para comover um deus.

Jamais se chega a alguma parte a não ser na morte.

O amor verdadeiro começa onde não espera mais nada em troca.

Louco, aquele que quebra os dentes contra o passado, bloco de granito terminado.

A vida não é nem simples nem complexa, nem clara nem obscura. Ela é, e está tudo dito.

Só é importante, só pode alimentar poemas verdadeiros a parte da vida que te compromete, que compromete a tua fome e a tua sede, o pão dos teus filhos e a justiça que te for ou não prestada.

Homem é aquele que leva em si qualquer coisa maior do que ele.

Apeteceu-me morrer. E pedi assim a Deus: Dai-me a paz dos estábulos, das coisas arrumadas, das colheitas recolhidas. Deixai-me ser, por me ter acabado de realizar. Estou cansado dos lutos do meu coração. Vim perdendo, um por um, os amigos e os inimigos. Vi uma luz brilhar no meu caminho de ócios tristes. Levo comigo o peso de tesouros inúteis, sei músicas que ninguém compreenderá.

Eu não sou geômetra, sou homem. Um homem que sonha uma vez ou outra com geometria, quando nada mais urgente o governa, como o sono, a fome ou o amor.

E é por isso que as paredes da prisão não podem encerrar aquele que ama. Ele é de um império que não está nas coisas, mas sim no sentido das coisas, e se ri das paredes.

Desde que eu te veja obrigado, que me importa saber se o guarda está dentro ou fora? Se ele hoje está dentro, sei que esteve primeiro fora.

Se não tivesses inimigos, não terias forma nem medida.

No amor não se pensa. O amor é.

Se eles não encontram o sentido das coisas, é porque este não se encontra, cria-se.

O amor que pede é belo, mas o amor que suplica é amor de criado. Vai ter com um médico para ele te curar.

Nunca dês ouvidos àqueles que, no desejo de te servir, te aconselham a renunciar a uma das tuas aspirações. Tu bem sabes qual é a tua vocação, pois a sentes exercer pressão sobre ti. E, se a atraiçoas, é a ti que desfiguras. Mas fica sabendo que a tua verdade se fará lentamente, pois ela é nascimento de árvore e não descoberta de uma fórmula. O tempo é que desempenha o papel mais importante, porque se trata de te tornares outro e de subires uma montanha difícil. Porque o ser novo, que é unidade libertada no meio da confusão das coisas, não se te impõe como a solução de um enigma, mas como um apaziguamento dos litígios e uma cura dos ferimentos. E só virás a conhecer o seu poder, uma vez que ele se tiver realizado. Nada me pareceu tão útil ao homem como o silêncio e a lentidão. Por isso os tenho honrado sempre como deuses por demais esquecidos.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

LIMBO

Pesa pensar
Se o sono vem
Precisava registrar
Resgatar pra outrem o momento.
Pena ficar
Assim num limbo de sentir
Entre o tentar e o entretenimento.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

BUCOWSKI

Mesmo assustando as almas mais sensíveis, aí vai um pouco do velho safado:

Esta noite me sinto envenenado, usado, gasto até o osso. Acho que a multidão, aquela multidão, a Humanidade, que sempre foi difícil pra mim, aquela multidão está ganhando, afinal. Acho que o grande problema é que tudo é uma performance repetida para eles. Não há novidade neles. Nem mesmo o menor dos milagres. São rançosos, bolorentos. Não há emoção. Congelam-se dentro de si mesmos, se enganam, fingindo que estão vivos.

Todos os dias volto do hipódromo apertando o rádio em diferentes estações, procurando música, música decente. Tudo é ruim, insípido, sem vida, sem melodia, indiferente. Mesmo assim, algumas dessas melodias são vendidas aos milhões. É horrível, uma idiotice terrível entrando em jovens cabeças. Eles gostam disso. Dê merda a eles e eles comem. Não conseguem discernir? Não conseguem ouvir? Não sentem a diluição, o mofo?

Gente demais é cuidadosa demais. Estudam, ensinam e fracassam. A convenção apaga suas chamas.

O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até as suas mortes. Não reverenciam suas próprias vidas, cagam em suas vidas. Concentram-se demais em cinema, dinheiro, família. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouví-la. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer.

Os escritores só gostam de cheirar a própria merda. Sou um desses. Não gosto nem mesmo de falar com escritores, de vê-los ou, pior, de ouvi-los. E o pior é beber com eles, se babam todos, realmente são lamentáveis, parece que estão procurando pela asa da mãe.

Na minha próxima vida quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais.

As mulheres não sabem a que ponto a lascívia as embeleza. Se compararmos duas mulheres de idade e beleza mais ou menos equivalente, uma vivendo no celibato e a outra na libertinagem, veremos como esta última reúne mais brilho e frescor; toda violência contra a natureza desgasta muito mais do que o abuso dos prazeres.

De algum modo, me perdi, os olhos grudados nas pernas dela. Sempre fui de perna. Foi a primeira coisa que vi quando nasci. Mas então eu tentava sair. Desde então, tenho me virado no sentido contrário, e com um azar dos diabos.

Qualquer um que paga dinheiro por uma consulta com o analista só pode ser doido.

Uma cara chata após a outra, parece não ter fim. Uma procissão interminável de idiotas, alguns famosos. Não havia muita alternativa para mim, exceto o escocês.

Gente demais sabia onde eu morava.

Eu me sentia cansado, no corpo e na mente. Queria largar o jogo.

Escutem aqui, companheiros, quando foi a última vez que um de vocês baixou a calcinha de uma mulher?

Os homens, em geral, não vivem nada; só se gastam.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

MARIO QUINTANA

PREPARATIVOS PARA A VIAGEM

Uns vão de guarda-chuva e galochas,
outros arrastam um baú de guardados…
Inúteis precauções!
Mas,
se levares apenas as visões deste lado,
nada te será confiscado:
todo o mundo respeita os sonhos de um ceguinho
- a sua única felicidade!
E os próprios Anjos, esses que fitam eternamente
a face do Senhor…
os próprios Anjos te invejarão.


OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...


AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...


EVOLUÇÃO

O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.