sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CAVALOS CALADOS

“O meu pulso não pulsou, o aparelho aceitou, a minha morte aparente, a sua sorte, minha garganta sem voz. Acordo semi-lúcido, entre a morte e a morte, relembrando onde perdi a minha língua atrevida pelas mortes, pelas vidas, pelas avenidas, pelas ruas sem chão! Meu corpo tem dois mil e tantos cavalos calados... “ – Raul Seixas.

Nunca vi a letra , Raul.
mas penso que era mais ou menos isso
um grito contra o conformismo
um basta sonoro à mesmice.

Nenhum galope, o cinza frio dos currais;
o cabresto, a encilha, o tapa-ôlho,
a ausência do movimento, o pasmo
atônito do tolhimento, o sofrimento
de querer mais e se podar
a aceitação do inevitável consentido
a ilusão de ser estável o adquirido
a sensação de ser inútil o já sabido
a complacência, o jugo admitido
a idiotice aplaudida, o cinismo
o egoísmo, o miopismo.

Mas a intentiva não morre nisso
o hipogrifo, o pégaso não nos deixam
esquecer as asas transparentes do ousar.

Cavalos calados, eis um grito.