Pai venho aqui devolver o teu corpo à terra, teu corpo já realizado de 85 sóis. A terra, mãe boa e generosa, saberá te receber .
O teu cabelo ralo que o tempo pintou de branco; teus olhos claros de sol nos quais meus olhos duros de sombra sempre acharam a paz; cada ruga traçada no teu rosto, contando a história de uma batalha, um sorriso, uma lágrima.
Tuas mãos fortes, mãos de lavrador, que souberam tirar da terra o sustento e colheram sonhos no ar; teus pés que pisaram firmes tanto chão, todos esses anos, sem descanso, sem vacilar;
a terra, irmã carinhosa e boa, te acolherá no seu seio macio.
Ah, pai, e a tua alma, essa alma simples e contente, entrego agora ao céu; o céu, irmão bondoso e justo, fará festas pra ti.
Te remeto, pai, aos elementos: o sol, a lua, o rio, a planta,
a pedra, o vento e a nuvem serão de novo um só contigo.
E os anjos, esses que fitam eternamente o Grande Pai, ao ouvirem as tuas visões do lado de cá, te invejarão.
Pai, eu que nada tenho, hoje venho te entregar a minha lágrima e a minha saudade. Vai com Deus, meu pai... Ainda nos veremos.
E tu me falarás como pai e eu te ouvirei como filho. E daremos risada, como irmãos, em algum lugar por aí, que tu já sabes qual é.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
BRUMA
Meu mundo era desolação e medo quando te encontrei. Fantasmas de cansaço e tédio moravam meu sonho.
Todo o mistério tinha varado o vau do tempo, lá onde as coisas perdem a cor.
Mas tu chegaste dia, me invadindo em ondas de calor e me vieste noite, me orvalhando em gotas de ternura.
Teu jeito suave pôs calma nos meus dias turbulentos e ouvir tua fala branda encheu minh’alma de silêncio e paz.
E adormeci no teu colo.
Quando acordei não estavas. Fiquei pensando se não tinha apenas te sonhado.
Hoje, quando entardece, fico na espreita na esperança de te ver chegar na bruma.
Todo o mistério tinha varado o vau do tempo, lá onde as coisas perdem a cor.
Mas tu chegaste dia, me invadindo em ondas de calor e me vieste noite, me orvalhando em gotas de ternura.
Teu jeito suave pôs calma nos meus dias turbulentos e ouvir tua fala branda encheu minh’alma de silêncio e paz.
E adormeci no teu colo.
Quando acordei não estavas. Fiquei pensando se não tinha apenas te sonhado.
Hoje, quando entardece, fico na espreita na esperança de te ver chegar na bruma.
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