sexta-feira, 30 de julho de 2010

RÉQUIEM

Pai venho aqui devolver o teu corpo à terra, teu corpo já realizado de 85 sóis. A terra, mãe boa e generosa, saberá te receber .

O teu cabelo ralo que o tempo pintou de branco; teus olhos claros de sol nos quais meus olhos duros de sombra sempre acharam a paz; cada ruga traçada no teu rosto, contando a história de uma batalha, um sorriso, uma lágrima.

Tuas mãos fortes, mãos de lavrador, que souberam tirar da terra o sustento e colheram sonhos no ar; teus pés que pisaram firmes tanto chão, todos esses anos, sem descanso, sem vacilar;
a terra, irmã carinhosa e boa, te acolherá no seu seio macio.

Ah, pai, e a tua alma, essa alma simples e contente, entrego agora ao céu; o céu, irmão bondoso e justo, fará festas pra ti.

Te remeto, pai, aos elementos: o sol, a lua, o rio, a planta,
a pedra, o vento e a nuvem serão de novo um só contigo.
E os anjos, esses que fitam eternamente o Grande Pai, ao ouvirem as tuas visões do lado de cá, te invejarão.

Pai, eu que nada tenho, hoje venho te entregar a minha lágrima e a minha saudade. Vai com Deus, meu pai... Ainda nos veremos.
E tu me falarás como pai e eu te ouvirei como filho. E daremos risada, como irmãos, em algum lugar por aí, que tu já sabes qual é.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

BRUMA

Meu mundo era desolação e medo quando te encontrei. Fantasmas de cansaço e tédio moravam meu sonho.

Todo o mistério tinha varado o vau do tempo, lá onde as coisas perdem a cor.

Mas tu chegaste dia, me invadindo em ondas de calor e me vieste noite, me orvalhando em gotas de ternura.

Teu jeito suave pôs calma nos meus dias turbulentos e ouvir tua fala branda encheu minh’alma de silêncio e paz.

E adormeci no teu colo.

Quando acordei não estavas. Fiquei pensando se não tinha apenas te sonhado.

Hoje, quando entardece, fico na espreita na esperança de te ver chegar na bruma.