quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A CASA NOVA


As bolas de pano
as pecas de barro
as carambolinhas
os piões que eu nunca soube manejar
as figurinhas do seu fifita
brasil pátria amada
as lombrigueiras
que eu não conseguia engolir
as tardes debaixo da casa
onde podia ficar horas
as pernas passando lá fora
a construção da comasa
o piche, os coqueiros,
o mangue e o panelão
o leite da dona paula
as balas da dona ester
a maria-mole e o suspiro
que o zeca comprava
na dona margarida
o hildebrando em seu cavalo
fugindo da naca
recebendo a polícia a bala
o nâncio e seus palavrões
o tóta e seu mau humor
o velho da roça e seus feitiços
a trovoada apagando os focos
a luz trêmula das velas
hoje é domingo, pé no cachimbo
como a professora é bonita
a primeira monareta
o primeiro de abril
os bolos de aniversário
a chuva caindo no telhado
o nariz colado na vidraça
o medo da vida, minha mãe
as xilóidas, as arapucas
o canto dos passarinhos
que eu não sabia imitar
capitão de navio
no alto da goiabeira
tudo era ali
meu mundo enorme
no fundo do quintal de lá de casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário